Por Guilherme Kastner,
Engenheiro de Aplicações na SKA
Um dos pilares da implantação de um projeto de indústria 4.0 é a adoção de conceitos de continuidade digital, garantindo que o dado visualizado por uma pessoa seja o mesmo em qualquer etapa do processo.
Antes de falarmos da transformação digital em si, é preciso distinguir três conceitos:
1. Analógico
2. Eletrônico
3. Digital
O trabalhar em papel é considerado um processo analógico, mas diferenciar um processo eletrônico do digital, muitas vezes, pode ser complexo.
Primeiro temos que lembrar o que é um processo eletrônico. Em 2007, eu lembro das primeiras companhias aéreas utilizando o check-in online e gerando um pdf do documento. Mesmo que mantivéssemos esse documento, arquivo ou qualquer coisa, em um meio eletrônico, ao enfrentarmos uma alteração de portão de embarque, por exemplo, o documento estaria desatualizado.
O documento era eletrônico, mas tinha a sua meia verdade. Ele tem a sua atualização até certo ponto, mas depois deixa de estar digitalmente conectado ao banco de dados. Por outro lado, com a chegada do Apple Wallet, em um primeiro momento chamado de passbook, contamos com cartões digitais, conectados com as bases de dados de diversas empresas, como companhias aéreas.
Esse é um exemplo de produto digital, uma vez que o usuário de um serviço está conectado em tempo real, com acesso a todas as atualizações.
Quando falamos em transformação digital, portanto, estamos nos referindo ao uso de tecnologias que permite uma conexão real time. Ao fazer isso, porém, muitas empresas cometem erros, veja os principais:
1 – Tratá-la como um projeto de curto prazo
O que todo mundo erra em um projeto de transformação digital ou implementação de tecnologias de indústria 4.0 é tratá-lo como algo simples de ser executado.
2 – Considerar a tecnologia mais importante que o negócio
Um outro erro muito comum é implementar algo por achar a tecnologia interessante, sem uma aplicação prática. Um exemplo que me veio à cabeça quando lembrei desse tópico foi um cliente que desejava implementar um sistema de automação de projetos, sendo que a verba já estava reservada para aquisição da ferramenta.
Eu pedi ao cliente que deixasse de considerar essa etapa em um primeiro momento, já que o nosso objetivo principal seria garantir que a sua engenharia estivesse conectada aos outros setores da empresa. Após essa etapa do projeto concluída, pensaríamos se o interessante seria uma solução para configurar projetos ou automatizá-los.
Colocar uma tecnologia a mais apenas criaria uma dispersão no projeto, tirando o foco do objetivo principal. Vejamos as principais coisas que, fora de ordem, podem colocar uma transformação digital em risco:
- Realidade virtual;
- Realidade aumentada;
- Renderização;
- Automação de projetos.
Tudo que listei acima pode ser importante, mas quando estiver em um ponto de relevância para o negócio.
3 – Subestimar os parceiros tecnológicos e sua expertise
Muitas empresas decidem realizar diversas iniciativas de forma interna. Vamos a alguns exemplos:
- Construção de um sistema de coleta de dados;
- Criação de um sistema MES;
- Customização de painéis de indicadores de diversos sistemas;
- Desenvolvimento de um PDM interno;
- Criação de uma integração CAD x ERP.
O problema de alguns desenvolvimentos internos é que eles normalmente não contam com a visão completa do que está surgindo nas ferramentas utilizadas. Vamos a um exemplo simples, entretanto prático.
Há uns anos eu vi uma pessoa que desenvolveu uma rotina para preencher a legenda dos desenhos do SOLIDWORKS, porém isso era algo tão customizado que surgiu uma ferramenta semelhante na ferramenta CAD. A nova solução era muito melhor, mas não tinha como ser implantada de forma rápida.
Eu já vi integrações ERPs caseiras desenvolvidas de forma, digamos, estranhas:
- Conectar o SOLIDWORKS ao ERP quando existe um sistema PDM, sendo que o PDM deveria ser conectado;
- Realizar a leitura de dados de fontes incorretas.
Não necessariamente faremos o uso do parceiro tecnológico, mas ouvir a sua proposta de solução em muitas etapas do processo poderia auxiliar em melhores decisões.
4 – Fazer muita coisa de forma precoce
Parece a mesma coisa do segundo item, mas não é. Criar as primeiras ondas, com objetivos rápidos, garante o envolvimento de outros departamentos para as etapas futuras.
Em muitos casos, se deseja digitalizar toda a empresa, o que pode se tornar uma frustração. O ideal é transformar o processo em fases. Vamos a um exemplo:
- Engenharia;
- Processos;
- Manufatura;
- Marketing;
- Vendas.
O setor seguinte entra na transformação digital apenas após o setor anterior atingir determinadas métricas. Com isso, transformamos um processo que envolveriam múltiplas pessoas, em etapas menores, contando com investimentos fracionados, viabilizando um projeto que pode ser iniciado com processos rápidos.
Um exemplo, a engenharia de manufatura, ao desejar construir a sua estrutura de produtos em produção, necessita do produto entregue pela engenharia de desenvolvimento. Saber definir a etapa correta faz a diferença no processo.
Conclusão
Nenhum de nós considera em fazer ou não a transformação digital de sua empresa… Isso é certo que ocorrerá, porém o que importa é o quando e como.