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SKA e o desafio da virada da Indústria 4.0

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*Escrito por Patrícia Comunello e veiculado na edição do dia 30 de setembro de 2019 no Jornal do Comércio

 

Quando a SKA surgiu, em 1989, as inovações em digitalização da­vam os primeiros passos, que, hoje, ganham ritmo de corrida de 100 metros rasos. O que o grupo de São Leopoldo – que tem como car­ro-chefe projetos de ferramentas, design para engenharia e proces­sos industriais com receita anual esperada em até R$ 150 milhões em 2019 – mais tem feito é ofertar soluções para que mais segmen­tos consigam assimilar e surfar na onda da digitalização, reforça o CEO e fundador, Siegfried Koelln. Em agosto, a SKA inaugurou o Cen­tro de Manufatura Digital, em uma parceria com a gigante HP, com a tarefa de acelerar inovações em empresas. “A chegada da Indústria 4.0 significa pensar uma coisa e executar no menor tempo possível”, resume Koelln, filho de gaúchos que nasceu em Mondaí, pequena cidade no Oeste de Santa Catarina, na fronteira com a Argentina. Aos 59 anos, o empresário lidera o gru­po familiar e se entusiasma com a evolução de novos negócios que saem de dentro da empresa-mãe.

 

Empresas & Negócios – Qual é o tamanho da SKA hoje?

Siegfried Koelln – Temos 12 unidades no Brasil, com sede em São Leopoldo. Essas unidades dão suporte técnico a nossos clientes e algumas desenvolvem softwa­res, como em Santa Catarina e São Paulo. O faturamento, em 2019, ficará entre R$ 140 milhões e R$ 150 milhões. Temos tido um desempenho consistente há bas­tante tempo. Nosso faturamento dobra a cada três anos, com cresci­mento médio anual de 30%. Neste ano, o percentual deve ser maior, pois compramos, em 2018, o nos­so principal concorrente, a IST, com sede em São Paulo, que era a número dois do mercado brasilei­ro. Com isso, ganhamos mais 70 profissionais. Nossos segmentos estão na indústria metalmecânica como um todo.

Empresas & Negócios – Qual é a perspectiva para 2020?

Koelln – Com toda a velocidade de inovação tecnológica, muitos clientes vão entrar mais nisso, o nosso trabalho só aumenta. Vamos continuar no mesmo ritmo de cres­cimento. Se a adoção de impresso­ras 3D de maior porte aumentar, potencializa ainda mais.

Empresas & Negócios – A SKA tem uma spin-off. Como está a operação?

Koelln – Criamos uma spin-off, a W3K, que fornece para grandes empresas – como a Gerdau –, tem 20 pessoas e cresce aceleradamen­te, com operação no Tecnosinos, e que desenvolve softwares para gestão de documentos em projetos e de capital. A W3K provê plata­forma na nuvem (armazenamento de dados) para gerenciar esses do­cumentos. Em vendas, superamos R$ 5 milhões em 2019. Para uma startup, podemos considerar que o negócio está consolidado.

Empresas & Negócios – O que vai significar a ativação do Cen­tro de Manufatura Digital em parceria com a HP?

Koelln – Com a chegada de novas tecnologias, que permitem atingir coisas antes impossíveis, há necessidade de toda uma mudança cultural que começa na concepção do produto. Para isso que o centro será importante. É preciso inter­nalizar as novas alternativas. Com a chegada de impressoras 3D em ambientes de produção, não será preciso mais construir protótipos. A impressão permitirá, sem gran­de investimento, produzir produ­tos com boa qualidade, atuando on demand, ou seja, conforme a necessidade.

Empresas & Negócios – Como os clientes vão poder usar a estru­tura?

Koelln – Temos milhares de clientes que estão o tempo todo projetando coisas. Vamos mostrar no centro como é possível fazer coi­sas de outras formas. Após a fase de convencimento, queremos que as empresas implementem em suas linhas de produção, adotando in­clusive impressoras 3D. Como nem todos comprarão o equipamento, abre oportunidade para desenvol­vedores de serviços na área. Posso fazer o design que for que a má­quina vai aceitar; a tecnologia dis­ponível permite colocar questões aos compradores que ele avalia a melhor entrega – como ter menor peso, maior resistência de material para dada função. Imagina o im­pacto para setores como indústria automotiva. Vai ter centros de im­pressão, para ficar próxima de seus mercados. Vamos ter centros de reposição, onde terão peças, o que evita transtornos de logística e traz oportunidades e ameaças.

Empresas & Negócios – Qual é o perfil dos clientes que vocês atendem?

Koelln – Temos empresas com todos os tamanhos, desde peque­nas, como algumas que estão in­cubadas no Tecnosinos, a ícones como a Embraer e montadoras. É importante desmistificar – há im­pressoras que não têm alto custo – que a empresa pode colocar em cima da mesa no escritório para imprimir peças de fibra de carbo­no com resistência muito maior do que em alumínio laminado, caso de componentes para avião. O valor de um equipamento é a partir de R$ 20 mil a R$ 30 mil.

Empresas & Negócios – Qual é a orientação para uma empresa que está entrando na Indústria 4.0?

Koelln – Muitas vezes, quando conversamos com uma empresa sobre a sua condição, pergunto sobre a posição de mercado que garante com o que ela tem. Estão ganhando ou perdendo partici­pação? É eficiente? Onde estarão em cinco anos se ficarem com os meios atuais? Tudo está mudando ao redor. Inovação é dar a cobertu­ra para funcionalidades, inclusive buscando saídas mais eficientes e até mais baratas para ocupar mais espaço. No planejamento estraté­gico, fala-se em oportunidades e ameaças, mas uma disrupção tão grande como a que vivemos pode trazer impacto muito maior. Quem não se atentar a isso possivelmente não terá vida longa.

Empresas & Negócios – É pre­ciso repensar o negócio ou buscar solução que pode incorporar?

Koelln – As duas coisas, pois, hoje, há grande facilidade de bus­car soluções. O nosso trabalho é ajudar a compreensão dentro da realidade de cada negócio. Nas dinâmicas que fazemos com em­presas, pedimos que tragam peças cujas soluções não sejam mais sufi­cientes e buscamos novas possibi­lidades. Uma das ações é remover limitações que estão na cabeça das pessoas, pois elas não conhecem as novas alternativas.

Empresas & Negócios – Como investir em inovação diante da con­juntura da economia brasileira?

Koelln – Em geral, atentamos aos macronúmeros, como PIB, pro­dução, emprego. Se formos olhar mais de perto, todo esse cenário não está em empresas de ponta e elevado alcance tecnológico. Basta olhar o balanço de companhias como Weg e Marcopolo, que aten­demos. Existe, sim, a realidade de áreas de negócios que vão sumir. Vou dar um exemplo simples: há anos, mandávamos fazer agenda para fornecedores e funcionários; hoje, ninguém mais faz isso. Está tudo de graça em meu smartphone ou no computador. As perguntas que uma empresa tem de se fazer é o que produz hoje e qual será a demanda em quatro ou cinco anos em seu mercado. Se o que produz terá demanda de um quinto do que é hoje, precisa buscar alternativas, se não o seu mercado vai sumir.

Empresas & Negócios – Quem já está fazendo a transição não sofre com a crise? Ou precisa ser uma condição conjuntural mais estável e clara sobre o futuro?

Koelln – As políticas existem, como Finep, com linhas para ino­vação, além do que os players colo­cam de equipamentos e financiam. Sempre que deslancha a economia, surgem mais entrantes. Quando a atividade trava, quem é mais com­petitivo sai mais forte.

Empresas & Negócios – O que o Rio Grande do Sul precisa fazer para ser motor na nova indústria?

Koelln – Temos um capital hu­mano importante. Gigantes de tec­nologia que atuam aqui sempre fa­lam da qualidade dos profissionais. Mas tem essa divisão ideológica, entre chimangos e maragatos, em vez de comemorar sucessos, come­mora-se a derrota do outro. Ques­tões ideológicas não resolvem, só pioram. Não adianta achar que somos os melhores, pois isso não resolve os problemas.

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